Maioria dos sons vieram durante as sessões conjuntas que a gente fazia... nada a vê com inspiração, mas com honestidade pprt de simplesmente tocar e cantar o que a gente vinha sentindo e vivendo. Foram saindo uma a uma... até que veio um som que a gente chamou de Androids. A letra era assim:
Eu morro e não vejo
Tudo de novo
Frases de androids
Todas são iguais
Te vejo nas festas
E lembro das merdas
Todas as drogas
Todas surreais
Todas são legais
Confesso de te ver
E te esquecer
Tocou todas e eu não dancei
Então vai
Me faz
Então não vem dizer
que você sabe demais
Então não vai dizer
que você sabe o que faz
Confiantes na bad
São vampiros no jogo
Correm treta e tanto faz
Querem sorte, sangue e mais
E eu vi tudo
Tu tava de fase
Ou só me deu bolo
E eu to sem furo
Santo forte, bateu
Não vem de faz de conta
E eu
To querendo sempre mais
To esperando um ano novo
To querendo tá de paz
E mais
Trips sobre como se vê o mundo e como se sentir com isso...
Mas parte em vermelho me deixava muito incomodado. E era justamente o refrão da música.
A letra toda parecia ir na direção de dizer algo que eu não conseguia dizer... e a parte em vermelho vinha como que uma raiva por uma sensação de que não me deixavam dizer exatamente aquilo que eu não conseguia dizer.
Tentei então mil opções de refrão. Sempre parecia meio deslocado, meio amortecido, pouco orgânico. Desisti do som muitas e muitas vezes. E quando voltava a trabalhar nela me dava um pouco de mal estar, uma nóia cada vez maior. Me voltavam traumas... raiva de rede social, raiva de passado.
Então desisti do som por me dar conta de que era isso que acontecia.
Então percebi que finalmente tinha entendido o que precisava dizer o que não conseguia dizer.
Aí o refrão virou assim:
E me trava
O mar de passado me trava
A sorte de nós
Me lembra
O mar de passado
E me trava
O mar de passado me ensina
Que a nossa história não termina aqui
e pra finalizar a msg do som busquei um áudio de whatsapp que diz assim:
Sei lá o que passou, mas o que passou passou... O passado não volta, e quando volta, ele é diferente.
E é meio isso... sempre foi isso que precisava dizer.
A nostalgia não é algo que se quer... é algo que acontece. E com ela vem alegrias doídas de bons passados
Mas ela também traz traumas, dores e paralisações...
Talvez por isso tanta gente seja cabreiro com a nostalgia.
É algo bom que dói. E que pode despertar o nossos melhores e piores lados.
Ao mesmo tempo... é isso. Nada do que se sente nostalgia volta como foi.
Se ela se torna um sentimento que produz ações, ela se torna só um modo de criação como tantos outros.
E esse som, Androids, é sobre essa volta sempre diferente. Que veio a tanto custo, a dores do entendimento e da aceitação das dores.
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